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Independiente x Peñarol: o troco 22 anos depois

Em 1987, tanto Independiente como Peñarol já eram equipes tradicionalíssimas na América do Sul e juntas possuíam 11 Copas Libertadores da América. Enquanto o “Rojo” já tinha as sete conquistas, o Peñarol possuía quatro taças no armário e estava disposto a conquistar sua quinta.

O Independiente se classificou para a Libertadores de 1987 vencendo a “Liguilla”. Esse torneio reuniu da 2ª à 6ª melhor equipe da primeira divisão, o campeão da segunda divisão e os times que ficaram em 2º e em 3º na tabela geral da segundona. Na final, o “Rojo” venceu o Boca Juniors na Bombonera por 2 a 1. Entrou no Grupo 1, onde estavam o Rosario Central e os venezuelanos Estudiantes de Mérida e Táchira.

O Peñarol entrou na Libertadores por ter sido o campeão uruguaio do ano anterior. O outro representante uruguaio no Grupo 5 foi o Defensor, que vencera a “Liguilla” uruguaia. Os clubes peruanos fizeram companhia aos uruguaios no grupo, com o Alianza Lima (que em dezembro daquele ano perderia 16 jogadores num desastre aéreo) e o San Agustín.

Naquela época, a Libertadores era disputada pelos dois melhores times de cada país do continente. Assim, havia cinco grupos com quatro clubes cada e os jogos deveriam ser disputados em sistema de turno e returno. O melhor de cada grupo se classificaria para a segunda fase, onde o atual campeão da Libertadores passaria a disputar a competição. Os seis times eram divididos em dois grupos de três, também com jogos a ser disputados em turno e returno. O campeão de cada grupo faria a final.

A Libertadores de 1987 era desorganizada em relação ao calendário. Enquanto as partidas do grupo do Peñarol foram disputadas de maio a junho, o grupo do Independiente pôde começar apenas em julho e terminando em agosto. Tudo por conta da desorganização da Conmebol e dos calendários das competições nacionais de cada país. Se a Argentina já usava o calendário europeu, o restante dos países sul-americanos estava pelo calendário tradicional.

O Independiente começou a Libertadores sendo surpreendido. O Táchira derrotou o “Rey de Copas” por 3 a 2 em San Cristóbal. Mas o resultado não abalou Bochini, Marangoni, Islas, Clausen e cia. Aquela foi a única derrota do Rojo no grupo e o time se classificou para a próxima fase. Já os meninos do Peñarol passaram pelo seu grupo de forma tranquila. Em seis jogos, o “Manya” venceu quatro e empatou dois. Assim, o sorteio iria definir os grupos da segunda fase da Libertadores.

No Grupo 1 da fase seguinte ficaram o Cobreloa, o Barcelona e o América de Cáli. O outro era o verdadeiro “grupo da morte”: ao lado de Peñarol e Independiente entrou o River Plate, atual campeão e grande time da época. Apesar de já ter vendido o “Príncipe” Francescoli, o River ainda contava com jogadores como Ruggeri, Caniggia, Gallego e Gorosito, além dos conhecidos uruguaios Gutiérrez e Alzamendi. Os jogos do “grupo da morte” começariam em setembro e as finais seriam marcadas para o final do mês de outubro.

O Peñarol era uma equipe jovem comandada por um jovem Óscar Tabárez. Queria apagar a péssima impressão deixada na Libertadores do ano anterior e de certa forma já tinha conseguido. Tanto o Independiente quanto o River teoricamente estavam melhor preparados, pois o campeonato argentino começaria dias depois do primeiro jogo da segunda fase do torneio continental. E os dois times eram muito bons.

No primeiro jogo do grupo 2, River e Independiente empataram sem gols num jogo duríssimo. E uma semana depois, Peñarol e Independiente se enfrentaram no Estádio Centenário. Ante mais de 50.000 pessoas, a turma de Pereyra, Herrera, Matosas, Aguirre e Cabrera foi para cima de Bochini, Percudani, Marangoni e Islas. No primeiro tempo, Aguirre de cabeça e Cabrera abriram 2 a 0 para o Peñarol. No segundo tempo, Viera escorou para o gol após ter recebido um passe de cabeça de Aguirre. A belíssima vitória por 3 a 0 deixou os vermelhos de Avellaneda em situação bem complicada no grupo.

Após a vitória, o Peñarol recebeu o River e empatou sem gols. Com isso, o time aurinegro encerrou o turno na liderança, com três pontos; o River tinha dois e o “Rojo” apenas um. Na abertura do returno, o Independiente bateu o River por 2 a 1, chegando aos mesmos três pontos do Peñarol. Portanto, a decisão para uma vaga na final da Libertadores de 1987 tinha local e data para acontecer: 30 de setembro, na temida Doble Visera.

O  Independiente estava há 34 jogos sem perder em Avellaneda pela Copa Libertadores. Além disso, nunca perdeu para uma equipe estrangeira no seu estádio em jogos válidos pelo torneio continental. Mais de 50.000 pessoas transformaram o estádio num caldeirão vermelho, impressionando os jovens jogadores carboneros. No entanto, eles não se intimidaram, se multiplicaram em campo, aguentaram a pressão imposta pelo “Rojo” e seguraram o empate no primeiro tempo, exercendo uma fortíssima marcação sobre Bochini.

No segundo tempo o Peñarol aproveitou melhor os espaços deixados pelo Independiente e mostrou aos donos da casa sua arma mortal: o contra-ataque. Aos 13 minutos, Cabrera recebeu lançamento na direita, avançou até a linha de fundo sem receber nenhuma marcação e cruzou com perfeição para que Diego Aguirre abrisse o marcador para o Peñarol. Silêncio em Avellaneda.

11 minutos depois, outro contra-ataque mortal do aurinegro resultou no segundo gol. Da Silva, que entrou no lugar do lesionado Gustavo Matosas, avançou pela esquerda, passou pela marcação e rolou no meio para Cabrera. O atacante uruguaio avançou até a entrada da área e definiu com um tiro cruzado.

Apesar de perder por 2 a 0, o Independiente não se entregou e se atirou ainda mais ao ataque. Aos 31 minutos um lançamento para a área do Peñarol encontrou Barberón, que cabeceou errado. A bola bateu na coxa de Gonçalves e subiu. Rottí tentou cortar a bola, atrapalhou a saída de Pereyra e ela sobrou para Giusti empurrar para dentro. Um gol de raça, que mostrava ao Peñarol que o “Rojo” venderia caro aquela derrota.

O Independiente seguia pressionando para empatar. Mas no momento em que mais se acercava ao gol, acabou levando o terceiro numa grande jogada de Da Silva, um dos melhores daquele jogo. Aos 38 minutos, o meia recebeu um passe de Cabrera no meio e avançou. Passou por dois marcadores de forma brilhante, entrou na área e definiu com a perna esquerda, na saída de Islas.

Apenas um minuto após ter levado o terceiro gol, o Independiente dava mais emoção à partida. Marangoni recebeu uma bola na meia direita e soltou um foguete com a perna direita. A bola quicou, enganou Pereyra e bateu na trave. No rebote, o habilidoso Percudani marcou o segundo gol do “Rojo”, fazendo explodir a “Doble Visera”.

Novamente o Independiente foi com tudo para o ataque. E novamente se abriu na defesa, esquecendo-se que havia levado dois dos três gols em contra-ataques. A consequência foi trágica para os vermelhos. Aos 43 minutos. Vidal recebeu um lançamento preciso de Da Silva e disparou pela direita, sem marcação. Viu Islas sair desesperadamente do gol e o driblou com facilidade, mas perdeu o ângulo para concluir. Assim, foi à linha de fundo e cruzou para Cabrera. O atacante teve tempo de matar a bola no peito, trazer a bola para a perna direita e encher o pé da marca do pênalti. Era o quarto gol e a consagração dos garotos de Tabárez.

Vinte e dois anos depois daquela final de 1965, o Independiente recebia o troco do Peñarol. Ainda que aquela memorável partida de 30 de setembro de 1987 não valeu por uma final, até hoje os torcedores do Independiente lembram com tristeza daquele jogo. Nunca mais o “Rey de Copas” chegaria tão longe numa Libertadores.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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