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Supersemana – Brasileiros no Super: Moacyr

Moacyr na capa da El Gráfico da edição de 31/03/1961

No início de 1960, os presidentes do River, Antonio Vespucio Liberti, e do Boca, Alberto Jacinto Armando, decidiram investir pesado na importação de jogadores, o que gerou altas expectativas entre os jogadores sul-americanos. No começo dessa década, o futebol argentino passava por uma fase terrível, já que dois anos antes a equipe alviceleste fizera sua pior participação em Copas do Mundo.

Como a atual campeã mundial era a seleção brasileira, os jogadores daqui estavam altamente cotados em todos os mercados futebolísticos. E tanto Liberti quanto Armando comentavam sobre o “futebol-espetáculo” que deveriam oferecer ao contratar brasileiros. Foi nessa época que Liberti proferiu uma de suas mais célebres frases: “O River não pode comprar jogadores baratos. Este clube é como o Teatro Colón: não é para qualquer um”.

O Boca trouxe o zagueiro Edson dos Santos, Paulo Valentim, Orlando Peçanha, Dino Sani e Maurinho. Para não ficar atrás, o River contratou Paulinho de Almeida, Décio de Castro, Delém, Moacyr e Roberto Frojuello. À exceção de Valentim, Edson e Paulinho, todos outros jogadores vieram em 1961. E, exceto Décio, todos os demais eram jogadores recentes da seleção brasileira, com Edson a defendendo inclusive como jogador do America-RJ e Sport.

Moacyr chegou com status de estrela em Buenos Aires. Nos cinco anos em que jogou no Flamengo, disputou 233 partidas e marcou 57 gols. Além disso, fez parte do elenco que havia sido campeão mundial na Suécia em 1958, ainda que sem ter entrado em nenhum jogo. O jogador estreou em 16 de abril num jogo contra o Lanús, onde o River venceu por 5 a 2. E quatro meses depois, no dia 6 de agosto, o River se encontraria com o Boca no Monumental.

Este super-clássico é histórico devido ao fato de que nada menos que dez estrangeiros atuaram nele. Até hoje, é o clássico que teve mais jogadores de fora da Argentina. Pelo lado do River, além de Moacyr, jogaram Delém e Roberto, o espanhol Pepillo e o uruguaio Domingo Pérez. No Boca, entraram em campo os brasileiros Dino Sani, Orlando Peçanha, Paulo Valentim e Maurinho, além do peruano Benítez. E o técnico do Boca era o campeão mundial de 58, Vicente Feola.

O jogo começou corrido e Benítez abriu o marcador para o Boca, aos 11 minutos. O River só tem Moacyr jogando de forma mais avançada, e este sentiu a falta de Onega, que não entrou em campo por conta de uma contusão. Mesmo após o gol, o jogo continuou corrido e o River não conseguia encontrar espaços para finalizar no gol de Roma. Até que o grande Rattín fez uma falta em Moacyr, aos 22 minutos.

A falta aconteceu perto da linha de fundo. Seria um “escanteio em mangas curtas”, caso o clássico fosse narrado pelos locutores brasileiros. O próprio Moacyr se preparou para fazer a cobrança da falta. Muitos jogadores do River foram para a área, o que fez quase todo o estádio supor que o brasileiro faria um cruzamento para a área.

Quase todo o estádio pensou nisso pois tanto o técnico Jim Lopes quanto o restante da equipe sabiam que Moacyr poderia chutar direto a gol. E Roma não pareceu tão preocupado com isso, já que além de ter visto muitos jogadores do “Millo” na área, colocou apenas dois homens na barreira.

O árbitro Luis Ventre autorizou e Moacyr chutou direto a gol, empatando a partida, para desespero de Roma e delírio do público, que lotava o Monumental. Porém, a reação do Boca foi instantânea e dois minutos depois Paulo Valentim desempatou novamente o clássico. Quando o jogo já caminhava para o final, outra cobrança de falta deu o empate ao River. Ao invés de Moacyr, Pepillo bateu e marcou um golaço e o resultado final foi o empate por 2 x 2. Com os quatro gols marcados por estrangeiros. O “futebol-espetáculo” mostrava sua cara.

Atualmente com 74 anos, Moacyr jogaria apenas mais um super-clássico pelo River, onde o time de Núñez perdeu por 3 x 1. No ano seguinte, se transferiu para o Peñarol e depois jogaria no Equador, onde jogou pelo Everest e pelo Barcelona. Após encerrar a carreira, fixou residência em Guayaquil, onde atualmente passa por dificuldades financeiras e convive há dois anos com um câncer de próstata.

Pelo pouco tempo em que ficou na Argentina, Moacyr foi um dos lembrados no conto do grande cartunista e escritor Roberto Fontanarrosa, um apaixonado por futebol. Morto em 2007, Fontanarrosa escreveu “El 8 era Moacir”, que traz um grupo de amigos conversando sobre jogadores que não se firmaram nos seus times. Clique aqui para ler o conto na íntegra.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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