O País da Política e do Futebol
“Tomara que Dilma e o PT arrasem a direita nefasta”. Frases parecidas foram ditas por muitas pessoas nessa reta final de campanha eleitoral no Brasil. Mas a citação é de um importante jornalista esportivo, o argentino Alejandro Fabbri, da TyC Sports (acima).
Muito famosos por sua paixão futebolística, os argentinos também são um povo muito politizado. Mais que isso, não vêem qualquer problema em misturar essas duas paixões. Essa mistura pode ser vista em todo o tipo de espaço futebolístico.
Diferente do que se vê aqui, os jornalistas esportivos do país vizinho expressam suas visões políticas sem nenhum resguardo. É normal ouvir em uma transmissão esportiva da Fox Sports, por exemplo, o narrador Mariano Closs expressar seu antiperonismo, o comentarista Chavo Fucks defender posição oposta e o também comentarista Fernando Niembro mostrar seu lado menemista, sem qualquer rodeio.
Claro que nem todos os veículos permitem tamanha liberdade de pontos de vista. A TyC Sports demitiu uma de suas jornalistas mais importantes, Ángela Lerena, por insistir em expressar suas opiniões esquerdistas nos programas que apresentava. Ainda assim, é algo muito diferente do que os brasileiros estão acostumados.
A questão dos direitos de transmissão das partidas do campeonato nacional também recebe um componente político muito explícito. A presidente Cristina Fernández Kirchner não hesitou em convencer a AFA a romper unilateralmente o contrato vigente com a TyC Sports e repassá-lo ao canal 7, estatal, que transmite gratuitamente todas as partidas da primeira divisão. “Fútbol Para Todos“, lema da equipe esportiva do canal, é referência óbvia à política peronista de lutar contra a exclusão dos mais pobres.
Entre os torcedores, a ligação entre os dois assuntos é igualmente presente. Causou polêmica, por exemplo, o fato de ter sido noticiado que os violentos barra-bravas (torcedores organizados) deportados da África do Sul pouco antes do mundial de 2010 seriam financiados por políticos ligados a Néstor e Cristina Kirschner.
Mas mesmo no universo do torcedor comum, essa mistura é facilmente visível. Cantos e bandeiras favoráveis a determinada corrente política são bem perceptíveis nos estádios argentinos. O peronismo é particularmente forte nesse contexto, e torcidas como a do Racing (cujo estádio, El Cilindro, tem como nome oficial Presidente Juan Domingo Perón), Chacarita Juniors e Nueva Chicago possuem uma longa tradição de associação com essa tradição política.
O caso mais surpreendente de associação e política talvez seja o da ligação entre estilos de jogo e filiação política. Os menemistas, por exemplo, frequentemente são associados ao futebol de resultados, ao estilo do técnico Carlos Bilardo, campeão mundial em 1986. Um exemplo é do respeitado analista Chavo Fucks, que logo após a eliminação do Chile pelo Brasil no mundial de 2010 declarou na AM Del Plata que “achar que Marcelo Bielsa é mau técnico por não avançar no mundial é um pouco menemista demais”.
Por outro lado, nos anos 1970, a defesa do futebol argentino tradicional foi abraçada com ênfase pelos peronistas, que viram no esporte um campo de luta entre uma Argentina tradicional e a invasão de ideias importadas.
O Huracán que conquistou o campeonato de 1973 (sob César Menotti, o técnico campeão mundial em 1978) com seu futebol tradicionalíssimo foi visto na época como um triunfo peronista. Os hinchas do clube de Parque Patricios entoavam hinos peronistas na arquibancada durante aquela memorável campanha. O próprio fato de um de seus maiores craques, Miguel Brindisi, abrir mão de atuar na Europa (ele tinha na época o recorde de jogos pela seleção argentina), foi visto como uma vitória argentina.
Tudo isso mostra uma importante diferença entre brasileiros e argentinos. Nós consideramos a política uma coisa suja, que não deve ser misturada com outros assuntos. Já para os nossos vizinhos, a política é um tema tão importante que está impregnada em todos as outras questões.
Quem estará certo?
Boa matéria, e como bom argentino não vou deixar a oportunidade para opinar. Essa situação que você descreve não é estática, não é um fato imutável do povo argentino. Vai mudando com o tempo, e hoje estamos passando por um tempo muito politizado, em que varias questões viraram discussão nacional como a lei de mídia.
A crise do 2001 fez esta mudança, o povo saiu para rua e deixou para trás 10 anos de menemismo neo-liberal e de salve-se quem puder.
Por último quero dizer que a política, principalmente a eleitoral, está mau vista na Argentina também. Mas a participação nas questões do dia a dia, como conflitos locais, sindicais, estudantis é bastante importante. As discussões políticas estão presentes na mesa dos argentinos, nos bares, nos escritórios.
O povo argentino não fica ao lado de uma entidade politica, principalmente a eleitoral, ha varios protestos e esses servem para que deixamos a organizações politicas menos corruptas em questão da sociedade, isso é uma participação, coisas que envolve direitos das pessoas são obrigaçoes deles responder ja que mostram isso dentro de suas campanhas. Sindicatos, protestos, questoes do cotidiano é importante e o povo argentino fazem disso uma realidade, e não bancam politicos apenas no futebol.
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