Neste fim de ano, completam 20 anos da morte de Oreste Omar Corbatta, nome histórico do Racing, e que também conquistou títulos importantes com Boca Juniors e seleção argentina. Ponteiro-direito genial, “El Loco” teve uma carreira de êxito, mas ao mesmo tempo uma vida pessoal difícil, em uma trajetória que tem semelhanças com a do brasileiro Garrincha.
Corbatta nasceu em 1936, em uma família muito pobre da província de Buenos Aires, e aos 19 anos já jogava na equipe titular do Racing. Em 1957, aos 21 anos, fez parte da inesquecível seleção argentina que conquistaria o Sul-Americano daquele ano em Lima, ao aplicar um sonoro 3 a 0 na seleção brasileira, que tinha então craques como Didi, Zizinho e Evaristo. Aquela Albiceleste entrou para a história graças ao ataque conhecido como “Los Carasucias”, formado por Corbatta, Humberto Maschio, Antonio Angelillo, Omar Sívori e Osvaldo Cruz. Também havia outros jogadores de peso, como Vairo e o histórico Néstor “Pipo” Rossi.
Poucos sabem, mas o habilidosíssimo ponteiro-direto da Academia, além de seus dribles mágicos, contribuiu de forma especial para aquela sonora vitória. Ocorre que dias antes da decisão, caminhando pelas ruas de Lima, Pipo Rossi se encontrou com Carlos Peucelle, ídolo histórico do futebol argentino, grande craque do River Plate, técnico da “Máquina” (o esquadrão riverplatense dos anos 40) e que então trabalhava no Peru.
Na conversa, Rossi ouviu de seu interlocutor: “O Brasil tem um camisa 8 fenomenal, chamado Didi. Você não vai dar conta de lidar sozinho com ele. Peça a alguém do ataque para ajudá-lo no meio”. Dito e feito. O capitão da albiceleste chamou para a tarefa o jovem Corbatta, que aos 21 anos jogou naquela final de dublê de armador e ponta-direita. Ajudou Pipo a anular Didi, a Argentina ganhou o meio campo e venceu o jogo com sobras.
Em 1958, contudo, a Albiceleste sofreu o maior vexame de sua história em Copas do Mundo, sendo despachada para casa na primeira fase após um humilhante 6 a 1 sofrido frente à Tchecoslováquia. Na Argentina, muitos atribuiem isso ao fato de Sívori, Maschio e Angelillo terem sido recrutados por equipes italianas antes do mundial, deixando de representar seu país naquele torneio (na época, o sindicato dos jogadores argentinos proibia a convocação daqueles que atuassem fora do país). No entanto, o ponteiro do Racing foi o único a se salvar, marcando gols nas três partidas. Foi considerado “imarcável” pelo jornalista inglês Brian Gleanville, e voltou a seu país com o prestígio intacto.
Aquele ano traria mais glórias para “El Loco”, que conquistaria seu primeiro título de clubes ao vencer com o Racing o campeonato nacional de 1958. Apesar de ter perdido o grande Humberto Maschio para o futebol italiano, o Racing contava com as jogadas mágicas de Corbatta, o grande craque de sua equipe. Nos anos seguintes, bisaria as duas conquistas. Em 1959, veio outro título de Sul-Americano sobre o Brasil, como uma vingança pelo desastre na Suécia. Em 1961, viria outro campeonato nacional com a camisa da Academia.
Por essa época, o jogador começava a demonstrar severos problemas de alcoolismo. No entanto, isso não impediu que o Boca Juniors desembolsasse a fabulosa quantia de 12 milhões de pesos para incorporá-lo à grande equipe que seu presidente Alberto J. Armando montava. Ali, Corbatta atuou com lendas do futebol argentino, como Rattín, Sanfilippo, Roma e Menéndez, além dos brasileiros Orlando Peçanha e Paulinho Valentim. Com a equipe xeneize, conquistou os títulos nacionais de 1964 e 1965, e o vice da Libertadores de 1963, contra o Santos.
No entanto, os títulos não mascaravam o fato de que El Loco já não era mais o mesmo. As pernas lhe faltavam. Em 1965, foi para a Colômbia, jogar no Independiente Medellín, de onde voltaria sem dinheiro, com o casamento desfeito e mergulhado de vez no vício em álcool. Ainda atuaria alguns anos em equipes de divisões interiores do futebol argentino, até se aposentar, já nos anos 1970. Alcoólatra e analfabeto (sabia apenas “desenhar” o próprio nome), Corbatta não conseguiu se estabilizar em sua vida após a aposentadoria. Morreria na miséria aos 55 anos de idade.
Corbatta era um gênio absoluto dos dribles. Extremamente habilidoso, pertencia à trágica e excepcional linhagem dos ponteiros deslumbrantes com vidas pessoais destruídas pelo alcoolismo, tais como os brasileiros Garrincha e Canhoteiro e o compatriota René Houseman. Foi protagonista absoluto em uma geração particularmente excepcional do futebol argentino, à qual, por motivos variados (êxodo de jogadores, preparações mal feitas), faltou a consagração para além dos limites do continente sul-americano.
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Muito boa a matéria. Assim fico conhecendo mais um grande do futebol argentino. Mas quanto sofrimento. Se reparar bem talvez uma educação formal melhor do Pelé fez a diferença em relação ao Garrincha. Da mesma forma o Corbatta em relação a alguns dos carasucias, que devem ter conseguido fortuna até por ter uma educação melhor. Estou falando besteira? Abraços e parabéns pelo texto.
Tem a ver sim, inclusive isso o deprimia muito, ele morria de vergonha de ser analfabeto, e isso o tornou muito retraído em relação ao mundo. Mas o alcoolismo também atrapalhou muito
"No entanto, os títulos não mascaravam o fato de que El Loco já não era mais o mesmo. As pernas lhe faltavam". Essa última foto já mostra uma expressão decadente do craque. Um mito do futebol para o povo nunca deveria ter esse fim. Uma lástima.