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1977: A América é do Boca Juniors

Toda história precisa de um começo. Até mesmo, aqueles que conquistaram a América por seis vezes precisam desbravá-la pela primeira vez. Há 33 anos, no dia 14 de setembro de 1977, após um jogo sofrido, o Boca Juniors conquistou a Libertadores da América pela primeira vez. Foi o primeiro dos seis títulos que garantem aos xeneizes a segunda posição entre aqueles que mais ganharam a competição.

O Boca Juniors foi o quarto argentino a ganhar a competição. Antes da vitória azul e ouro em 1977, Independiente (1964, 1965, 1972, 1973, 1974 e 1975), Racing (1967) e Estudiantes de La Plata (1968, 1969 e 1970) venceram a competição. Isso, na verdade, é um fato de grande tristeza para o Boca fora o primeiro argentino a participar de uma final de Libertadores: 1963 contra o Santos.

No entanto, 1977 já se desenhava como a chance de ouro para os xeneizes, mesmo caindo em um grupo difícil: o Grupo A composto pelo rival River Plate e os uruguaios Peñarol e Defensor Sporting. Só que o Boca era favorito porque se classificou com uma equipe imbatível, campeã tanto do Metropolitano como do Nacional em 1976.

E o primeiro embate foi justamente um Superclásico. Realizado em 9 de março de 1977, vitória do Boca 1 a 0 em casa.

Em abril e maio, o Boca Juniors fez suas partidas contra os uruguaios. 0 a 0 contra o Defensor (14 de abril – fora), vitória de 1 a 0 em cima do Peñarol (20 de abril – fora), vitória de 2 a 0 em cima do Defensor (28 de abril – casa) e vitória de 1 a 0 em cima do Peñarol (11 de maio – casa).

Essa campanha invicta garantia o Boca Juniors na próxima fase. Com nove pontos, a equipe não podia ser alcançada pelo River Plate, 5 pontos, e o Superclásico da última rodada foi em clima de festa mesmo com o 0 a 0.

Como líder do Grupo A, o Boca Juniors se classificou no grupo 1 da semi-final, junto com Deportivo Cali e Libertad de Assunção. Mais uma campanha invicta: duas vitórias em cima dos paraguaios (1 a 0, em casa, em 14 de julho e 1 a 0, fora, em 20 de julho) e dois empates com os colombianos (1 a 1, fora, em 3 de agosto e 1 a 1, em casa, em 16 de agosto).

Dessa forma, o Boca Juniors se classificou para a final com o campeão do ano anterior, o Cruzeiro. A equipe brasileira tinha vencido o River Plate no ano anterior ganhando em casa e no jogo desempate em Santiago do Chile. Por causa disso e, até mesmo, pelo exemplo do Santos, os mineiros se desenhavam (e acreditavam) como favoritos.

O salto alto não caiu mesmo com a derrota na Bombonera em 6 de setembro. O Boca Juniors fez 1 a 0 aos 3 minutos do primeiro tempo e esse foi o placar final. Cinco dias depois, os mineiros começaram a repetir o script: Nelinho fez o gol da vitória por 1 a 0 aos 21 minutos do segundo tempo.

Dessa forma, um jogo desempate foi marcado para o dia 14 de setembro em Montevidéu. O Boca Juniors começou a partida com Gatti; Pernía, Tesare, Mouzo e Tarantini; J.J. Benitez, Suñé, Zanabria e Mastrángelo; Veglio e Felman. Era um esquadrão xeneize irreconhecível: jogava com camisas inteiramente brancas, calções azuis e meias brancas.

No placar final, com prorrogação, a partida ficou sem gols. Disputa de pênaltis e um erro apenas: do cruzeirense Vanderley que foi impedido pelas mãos de Gatti bem colocadas no canto esquerdo. A América era azul e amarela e até mesmo o Diário Crônica utilizou essas cores para estampar o jornal do dia seguinte com o feito de Gatti.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

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