Em maio de 1968 a palavra “revolução” estava no ar. Em Paris, em Nova York, em Praga, no Rio de Janeiro. Mas sob aquele imenso tumulto, uma revolução mais silenciosa se processava no futebol argentino. E um de seus momentos emblemáticos foi o título da Libertadores conquistado pelo Estudiantes, o primeiro da equipe de La Plata, que hoje completa 43 anos.
De 1931 a 1966 o futebol argentino viveu um momento peculiar. Nesses primeiros 36 certames profissionais, apenas os cinco grandes (Boca, River, Independiente, Racing e San Lorenzo) conseguiram chegar ao título argentino. Em 1967 a AFA mudaria o sistema de seu torneio. Passariam a haver dois campeonatos anuais. O Metropolitano, com os clubes diretamente filiados à AFA, e o Nacional, com a inclusão das equipes que não puderam disputar o campeonato argentino durante o profissionalismo.
Coincidência ou não, já em 1967 o Estudiantes viria a ser o primeiro a furar o bloqueio dos grandes, vencendo o Metropolitano daquele ano. No ano seguinte o Vélez venceria o Nacional, e em 1969 o Chacarita Jrs. levantaria o Metropolitano; em 1971 o Rosário Central viria a ser o primeiro time do interior a conquistar o título nacional. Era, incontestavelmente, um novo momento no futebol argentino. Nele, os gigantes continuariam sendo os principais protagonistas, mas com outras equipes lhes fazendo frente.
A revolução de La Plata começou em 1965, com a chegada de Osvaldo Zubeldía, um treinador ainda iniciante, para tentar salvar o clube do rebaixamento. Com poucos recursos financeiros, o treinador promoveu jogadores da fortíssima categoria de base do clube, um grupo que havia ficado conhecido como “La Tercera Que Mata”. Dentre eles, o mais notável era o ponteiro-esquerdo Juan Ramón Verón. O habilidoso jogador seria uma participação importantíssima nos anos seguintes e viraria ídolo histórico do clube.
Outra estratégia de Zubeldía foi atrair jogadores menos conhecidos que se encaixassem no perfil desejado. Um deles foi Carlos Salvador Bilardo. Revelado pelo San Lorenzo, Bilardo estava no Deportivo Español, e era um tipo de jogador que agradava a Zubeldía. Meio campista inteligente, cerebral, com aguda percepção tática, Bilardo era o comandante de meio campo dos sonhos do novo treinador.
Zubledía achava que a inteligência era o mais importante para uma equipe de futebol. Montou uma equipe taticamente compacta, em que todos os jogadores conheciam perfeitamente a função que deveriam desempenhar. Treinava incansavelmente jogadas de bola parada. Utilizava estratégias para esfriar o jogo quando necessário. Para muitos era um jogo feio, chato de assistir, com muita catimba e antijogo. Para outros, era uma revolução no futebol argentino.
Em 1965 o Estudiantes se livrou do rebaixamento, em 1966 brigou na parte de cima da tabela, e em 1967 chegou a um até então impensável título. Em 1968, na Libertadores, passou em primeiro lugar em um grupo que tinha o poderoso Independiente e os colombianos Milionários e Deportivo Cali. Na segunda fase daquela Libertadores enfrentou os peruanos do Universitario e novamente o Independiente, passando como único classificado.
Nas semifinais o Estudiantes enfrentou um rival doméstico, o Racing, então atual campeão da Libertadores e Mundial. Na primeira partida, vitória do Racing em Avellaneda por 2 a 0. Na volta, em La Plata, o Pincha sacou um implacável 3 a 0, fazendo com que o 1 a 1 da partida desempate o levasse a uma histórica final de Libertadores. O rival seria outra Academia, mas a palmeirense, que havia eliminado o Peñarol nas semifinais.
Em La Plata o Palmeiras vencia por 1 a 0, com um gol de Servílio, mas nos minutos finais da partida Verón e Flores marcaram, conseguindo uma virada espetacular para o Estudiantes. No jogo de volta no Pacaembu, a Academia impôs um incontestável 3 a 1 sobre o Pincha, forçando uma partida definitiva em Montevidéu. Nesse terceiro jogo o Pincha se impôs claramente, e venceu por 2 a 0, com gols de Ribaudo e Verón.
O Estudiantes era campeão da América, a primeira de uma série de 3 conquistas seguidas. Osvaldo Zubeldía provava a eficácia de seu método, desmoralizava seus críticos e inaugurava uma nova corrente de pensamento futebolístico no futebol argentino. Corrente que chegaria ao topo do mundo em 1986, quando, seguindo a escola de Zubeldía, seu ex-pupilo Carlos Bilardo levaria a seleção argentina ao bi mundial.
Naquele 16 de maio de 1967, os heróis da conquista Pincha foram: Poletti, Aguirre Suárez, Medina, Pachamé e Malbernat; Madero e Bilardo; Ribaudo, Conigliaro, Flores e Verón.
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Tiago, não consegui identificar na foto o Bilardo e Verón padre. Você poderia me ajudar popr gentileza?
Abraço, meus parabéns pelo texto.
William, El Narigón é o segundo agachado da esquerda para a direita. La Bruja é o último à esquerda. Obrigado pelos elogios