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15 anos sem Juan José Eufemio Negri: ex-Boca e River e campeão paulista por São Paulo e Santos

Ainda no clima do San-São do último fim de semana? É valido lembrar rapidamente o argentino que jogou pelos dois e que, como se não bastasse, já havia defendido Boca e River. Tudo em transferências diretas! Também ex-jogador da seleção argentina, Juan José Eufemio Negri, nascido em 8 de março de 1920 em Wilde, faleceu há 15 anos, em La Plata, cidade do clube onde El Pichón (“O Pombo”) melhor se identificou, o Estudiantes. Eis um aperitivo para os encontros que o time terá contra o Santos pela Taça Libertadores da América em 2018, com dois duelos agendados para abril.

Foi nos pincharratas que ele começou e terminou a carreira de jogador, iniciada em dezembro de 1938, na rodada final do campeonato argentino (vitória por 2-1 sobre o San Lorenzo no Gasómetro). O primeiro gol tardaria até a vigésima rodada do ano seguinte, em 3-1 sobre o Atlanta, também fora de casa. Somou outros cinco gols em 1939, incluindo dois em vitória por 6-2 sobre o Rosario Central, estreante no campeonato argentino – ele e o rival Newell’s até então só jogavam na liga rosarina.

Negri se afirmou a partir de 1940. Foram doze gols, incluindo em vitórias sobre River (2-1), o rival Gimnasia (também 2-1), San Lorenzo (3-2) e, sobretudo, um 5-1 no timaço do Huracán vice-campeão do ano anterior e 3º colocado naquele. O Estudiantes terminou em sexto, algo significativo em um país no qual os grandes são cinco – Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo. O time de La Plata ficou a três pontos da medalha de bronze e, para completar, um acima do Gimnasia.

Em 1941, em uma campanha apenas razoável de oitavo lugar, Negri marcou dez vezes, incluindo em novo 2-1 no clássico platense, fora de casa, vitimando novamente o Huracán (derrota de 3-2) e dessa vez também o Racing (4-2). Em 1942, em novo sexto lugar, a quatro pontos do terceiro, mais dez gols. Pelo terceiro ano seguido, vazou o Gimnasia (1-1 fora de casa). Também anotou em vitórias sobre os grandes San Lorenzo (3-2, também fora) e, sobretudo, Independiente, goleado por 4-0 com dois do Pichón; além de marcar os gols de honra em derrotas para o terceiro colocado Huracán (4-1), ainda visto na época unanimemente como “o sexto grande”, e River (3-1). Os pincharratas terminaram em quarto, mas com a mesma pontuação do Huracán terceiro.

Assim, em 28 de março de 1943 Negri estreou pela seleção argentina. Foi em empate em 3-3 com o Uruguai pela Taça Juan Mignaburu, no Monumental de Núñez. Curiosamente, naquela ocasião o pincharrata formou ataque junto com outros dois jogadores que passariam por gramados paulistas, Rinaldo Martino (também no São Paulo, brilharia ainda na Juventus e jogaria pela seleção italiana) e René Pontoni (ídolo do jovem Papa Francisco, jogou na Portuguesa), ambos então no San Lorenzo. Foram deles dois os gols da Albiceleste, inclusive. Negri atuou por 59 minutos nesse clássico do Rio da Prata, sendo substituído por Jaime Sarlanga, do Boca.

Aquele acabaria por ser não só a estreia como a única aparição de Negri pela Argentina. O livro Quién es Quién en la Selección Argentina 1902-2010, de Julio Macías, tentou explicar que o meia “foi contemporâneo de notáveis jogadores, em sua posição e em outras do ataque de então. Por isso, talvez, não teve a transcendência que merecia por suas grandes condições. No Estudiantes de La Plata, onde brilhou por quase uma década, o consideram um dos grandes de sempre”.

Afinal, Negri continuou mantendo a regularidade no seu Estudiantes no decorrer de 1943. Pelo quarto ano seguido, marcou no clássico platense (2-1, no ano do primeiro rebaixamento do Gimnasia), além de vitimar grandes, ainda que em derrotas (Huracán 3-2, River 2-1), mas também marcando os dois em triunfo de 2-1 no Independiente e no empate em 1-1 com o Racing. Em 1944, foram nove gols, incluindo nos dois encontros contra o Boca (derrota de 4-2, vitória por 2-1) e especialmente o último em inapelável 5-1 no San Lorenzo em Buenos Aires.

O Estudiantes enfim terminou isoladamente em terceiro, abaixo da dupla Boca e River. E venceu a Copa Adrián Escobar, taça prestigiada na época, a reunir os sete primeiros da liga em partidas de quarenta minutos. Negri marcou na eliminatória contra o Huracán, então bicampeão desse torneio. Foi o primeiro título do futebol profissional do time (e da cidade) de La Plata. No sexto lugar de 1945, Negri só pôde assinar quatro gols, mas retomou a rotina de vitimar o rival Gimnasia, que voltava à primeira divisão para ser novamente, por dois pontos, rebaixado, abatido por 3-1. Viu do banco os colegas vencerem outra Copa, a da República, espécie de Copa Argentina da época.

No Estudiantes e na única partida pela seleção: Norberto Yácono, José Salomón, Raúl Leguizamón, Isaac López, Jorge Alberti, Jorge Titonell e o técnico Guillermo Stábile; Juan Carlos Muñoz, ele, René Pontoni, Rinaldo Martino e Enrique Garcia

Em 1946, foram nove gols pelo time quinto colocado. Dois deles, em 5-1 sobre o Huracán do jovem Alfredo Di Stéfano. Conseguiu a primeira tripleta, marcando todos da vitória pincha por 3-2 sobre o Chacarita. Contra os gigantes, deixou o dele em vitórias significativas: 4-1 no Boca e 2-1 em um San Lorenzo campeão com o ataque mais goleador da década. Já o ano de 1947 foi o de melhor produção, com treze gritos em uma campanha de quarto lugar. Dois, na surra de 8-1 no Banfield.

Outro gols saíram no 2-0 sobre o Racing em Avellaneda (ainda que realizado no estádio do Independiente, onde o Estudiantes mandou a partida). Também em derrota de 2-1 para o Boca, em 2-2 com o Independiente e em novo triunfo sobre o Racing em Avellaneda, já na casa rival, por 2-1. Embora ausente da seleção, o bom desempenho e a munição constantes aos verdadeiros goleadores pincharratas da década – Manuel Pelegrina e Ricardo Infante – fizeram El Pichón ir ao Boca.

Na pré-temporada, marcou duas vezes em três amistosos. Mas no campeonato, ainda que tenha saboreado um 7-2 no recém-ascendido Gimnasia, só marcou uma vez em doze jogos, no 1-1 em casa com o San Lorenzo. O Boca foi apenas oitavo. Negri começou o ano seguinte ainda xeneize, mas com uma única partida, já em maio. O San Lorenzo dessa vez venceu por 4-1 e El Pichón, em julho, já anotava seu primeiro gol pelo River, o primeiro em vitória por 3-2 sobre em Avellaneda sobre o Independiente, campeão do ano anterior. Em Núñez, foi vice naquele ano enquanto o ex Boca livrou-se do rebaixamento só na última rodada. Mas Negri também não triunfou como millonario.

Fez só outros cinco gols pelo River no campeonato, todos ainda em 1949. Em 1951, foi repassado ao vizinho Platense. O Calamar ficou a dois pontos do rebaixamento, evitado com alguns gols do reforço, que garantiu quatro pontos somente contra o Independiente: fez no 1-1 em casa e dois em 3-1 dentro de Avellaneda. Também deixou o dele em 4-2 sobre o Boca na Bombonera e um no “velho rival” Gimnasia, em derrota por 3-1. Já com 31 anos nas costas, foi então importado pelo futebol paulista. Inicialmente, para jogar no Juventus mesmo.

Da Mooca foi ao Canindé, que na época era o estádio do São Paulo, que vinha insistindo bastante com argentinos em 1953. Foi, até 2016, o ano recordista de estrangeiros no tricolor, treinado igualmente por um hermano, Jim Lopes. O matador Gustavo Albella já estava lá, mas o meia-esquerda Nicolás Moreno, colega dele no Banfield quase campeão de 1951, não vingara. Tampouco o substituto de Moreno, Rinaldo Martino, que não agradara no período de testes no Rio-São Paulo.

El Pichón foi a terceira opção argentina para o setor só naquele ano (em que outro vizinho esteve no plantel, mas sem jogar – Edgardo Di Loreto, do Rosario Central campeão da segundona de 1951). Ele e Albella entraram nas estatísticas de uma campanha vitoriosa, com ambos marcando no 3-1 no jogo que garantiu o título estadual daquele ano. Por sinal, justamente em duelo contra o Santos, já em janeiro de 1954. O decorrer do ano seguinte já não foi tão bom aos são-paulinos e Negri foi repassado ao próprio Santos. Como alvinegro, ele não teve individualmente tanto êxito, com só quatro gols (e um único pelo Estadual, em 4-2 na Ponte Preta) em 17 partidas.

Por outro lado, Negri seguia na titularidade no jogo decisivo do título de 1955, realizado já em janeiro de 1956, contra o Taubaté. Foi o segundo troféu estadual dos praianos e o primeiro em vinte anos, em tempos em que a equipe alvinegra ainda tinha patamar mais próximo ao dos vizinhos Portuguesa Santista e Jabaquara do que do trio de ferro paulistano. Afinal, foi a última taça anterior à Era Pelé – mídias argentinas juram que o Rei teria declarado algum aprendizado com Negri.

Negri deixou a Baixada de forma conturbada, somando só três partidas em 1956, rumo ao futebol chileno. Onde não deixou de ser centro de polêmica: problemas com a sua inscrição fizeram com que o San Luis de Quillota, terceiro colocado em campo, terminasse rebaixado após perder treze pontos nos tribunais. El Pichón voltou à velha casa, pendurando as chuteiras em 1958 pelo Estudiantes, sem anotar um último gol. Já havia deixado 83 pelo clube.

O ano de 1944 foi o melhor do Estudiantes de Negri, bronze na liga e campeão da Copa Escobar: Walter Garcerón, Gabriel Ogando, Luis Villa (futuro ídolo do Palmeiras), Eduardo Rodríguez, Nicolás Palma e Héctor Blotto; Julio Gagliardo, ele, Ricardo Infante, Julián Gutiérrez e Manuel Pelegrina

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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