15 anos do bi seguido (e 4º título) do Boca na Libertadores. Graças a Córdoba

Primeiramente, #NoTeVayasLio.

Em segundo lugar, foi só há quinze anos que o Boca superou o Estudiantes e o Nacional uruguaio em número de Libertadores, ao somar sua quarta. Nela, o goleiro colombiano Óscar Córdoba superou Juan Román Riquelme como ícone maior dessa quarta taça – vale ressaltar ainda, a segunda consecutiva, feito que ninguém mais repetiu desde então.

Antes de me crucificarem por preferir um goleiro ao camisa 10, explico. Sim, Riquelme jogou MUITO. A genialidade dele rendeu belos passes, gols e as ferramentas que levaram o Boca ao sucesso antes de Román ir para o Barcelona. Outros jogadores merecem destaque em um time inesquecível: Barros Schelotto, Delgado, Matellán, Bermúdez, Ibarra, Battaglia, Serna, Traverso, Gaitán, Giménez…

De todos esses jogadores, carinho especial ao atual treinador Schelotto, que brilhou com três gols nos jogos contra Vasco (que vinha há dezenas de jogos invicto, com Romário & cia tendo vencido todos os da primeira fase. Foram derrotados tanto em Buenos Aires, por 3-0, como em São Januário) e Palmeiras, donos das melhores campanhas da 1ª fase.

Esse elenco se deu ao gosto de, paralelamente à campanha, derrotar por 3-0 o River pelo campeonato argentino, dérbi lembrado por Riquelme desafiar na comemoração o presidente (então apenas do clube) Mauricio Macri – que recusava-se a aumentar o salário do craque e terminou vendendo-o dali a um ano ao Barça. Nascia ali a comemoração icônica do “Topo Gigio”, desculpa do craque para o despeito, em referência ao programa infantil homônimo.

Além dele, não faltavam bons jogadores, e todos comandados por um técnico único: Carlos Bianchi, que naquele ano conquistou a alcunha de maior campeão da Libertadores; era a sua terceira, após ter ganho a edição anterior e também a de 1994, esta com o Vélez. Mesmo ao lembrar do“Virrey”, Córdoba é o ícone maior? Sim. Nenhuma dessas qualidades renderia o tetra se não fosse pela arte decisiva das defesas do colombiano.

Para quem não lembra, o Palmeiras esperava nas semifinais uma revanche no antigo Parque Antárctica pela derrota na final de 2000. Conseguiu arrancar um empate na Bombonera (aos revoltados, saibam que concordo, não foi pênalti no Barijho). O time de Celso Roth ainda ressurgiu das cinzas após um show de Riquelme em São Paulo. De novo, a disputa por pênaltis decidiria o duelo. Adivinha quem defendeu duas cobranças e meia* na casa do adversário, uma delas do craque Alex?

Veio então a final contra o Cruz Azul. Estreantes na competição da Conmebol, os mexicanos escreviam uma história de cinderela ao avançar da pré-Libertadores, eliminando River e Central (treinado por Edgardo Bauza e tendo no elenco o então veterano atacante Juan Antonio Pizzi, técnico que acaba de vencer a Copa América Centenário pelo Chile sobre a Argentina natal) no caminho, até chegar ao possível título inédito e histórico a um time da América do Norte.

A Cruz Azul tinha figuras argentinas: embora ausentes do jogo de quinze anos atrás, Ángel “Matute” Morales, talentoso mas errático ex-armador de Independiente e Racing, e Héctor Adomaitis haviam sido importantes na trajetória, com respectivamente cinco e dois gols. Começou com pé esquerdo a novela mexicana na final, no entanto.

Bianchi, como bem souberam diversas torcidas brasileiras, sabia bem como montar times prontos para triunfar fora de casa, e Marcelo Delgado fez o gol da vitória no jogo de ida – ele próprio, um ex-jogador da Cruz Azul, para onde voltaria posteriormente.

O Vasco de Juninho corre atrás do prejuízo do gol de Barros Schelotto em São Januário. Em vão: o atual técnico e Riquelme estavam imparáveis, mesmo sob violência ou contra Alex

Pela lógica, diante de um time com os talentos mencionados acima, o título na Bombonera deveria ser mero protocolo, não é mesmo? Não foi, mesmo com a ausência do febrio “Matute” Morales. Riquelme até fez a parte dele, com jogadas individuais e nas bolas paradas. Mas, depois do belo início Xeneize, num jogo que também teve problemas com gás (lacrimogênio, no caso, fora do estádio), “La Máquina” mexicana dominou e venceu.

Mais uma vez, a importância de Óscar Córdoba. Não fosse por ele, só no primeiro tempo seria 0 x 3, pelo menos. Gaitán e Román no ataque se esforçavam, sim. Na defesa, porém, o título já teria ido para o México se não fosse pelo colombiano. Pela terceira vez em quatro finais, o Boca deu a volta olímpica após vitória nos pênaltis. Desta vez, Córdoba defendeu apenas uma das três cobranças desperdiçadas pelo Cruz Azul: a primeira de todas, responsável pela confiança dos demais batedores xeneizes.

Riquelme, sem dúvida, foi o melhor jogador da competição. Não à toa, foi contratado pelo Barcelona. Agora, o “ícone” da conquista (termo que cuidadosamente escolhi para o título) foi Córdoba. Pode parecer cruel, mas sem a contribuição decisiva dele, a equipe de 2001 não teria a mesma importância que tem na história Xeneize. Muitos já eram campeões, mas se tornaram bicampeões. Nem preciso ir muito longe para enfatizar a diferença desses lances decisivos.

Basta lembrar da mais recente tristeza com a Seleção Argentina. Se Romero tivesse defendido mais cobranças, também se tornaria um ícone, o jejum teria acabado, e nem precisaríamos implorar pela permanência de Messi. Não estou culpando ninguém, mas apenas imagine. Por isso, se na final do tetra do Brasil lembram mais do Taffarel do que do Romário, no do Boca, lembro mais do Córdoba que do Riquelme. Gracias!

*Considero meia cobrança defendida contra o Palmeiras porque Córdoba quase pegou a bola do Arce, que foi na trave no fim das contas.

Córdoba, o grande herói de 15 anos atrás
Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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