15 anos da primeira Sul-Americana, vencida pelo San Lorenzo. Com um 4-0 em plena Medellín no Atlético Nacional

O capítulo final da uma fase áurea do Club Atlético San Lorenzo de Almagro completa hoje quinze anos. Foi com a conquista da edição inaugural da Copa Sul-Americana, com direito a um 4-0 em plena Medellín na decisão contra o Atlético Nacional. Naquele mesmo 2002, em janeiro, o CASLA havia levantado a Copa Mercosul válida pelo ano anterior, torneio antecessor da Sul-Americana e vencida no embalo de 2001, em que os azulgranas venceram o Clausura e conseguiram um recorde ainda seu de 13 vitórias seguidas no futebol argentino. Dos que participaram do título de janeiro, porém, muitos já não estariam na volta olímpica de 11 de dezembro de 2002.

Leo Rodríguez (reserva de Maradona na Copa de 1994) se aposentara; Pusineri e Serrizuela foram ao Independiente, onde dez dias antes, em jogo contra o próprio San Lorenzo, venceram o Apertura; Capria, Erviti e Franco foram ao México e Ameli, ao Brasil; Estévez, autor do gol da final da Mercosul, ao Boca; o técnico, o chileno Manuel Pellegrini, ao River; e o artilheiro da Mercosul, Romeo, para o Bayer Leverkusen. Os titulares restantes foram o goleiro Sebastián Saja, o defensor Aldo Paredes, o eterno meia Leandro Romagnoli e o atacante Alberto Acosta, uma espécie de Martín Palermo do clube.

Àqueles remanescentes, juntaram-se velhos conhecidos do plantel, casos do volante Cristian Zurita e dos defensores paraguaios Celso Esquivel e Claudio Morel Rodríguez, ex-reservas; e também novos, como o meia Gonzalo Rodríguez, recém-ascendido da base e que estrearia pela seleção argentina já em 31 de janeiro de 2003. Outra velha cara foi o novo técnico: Rubén Darío Insúa, ex-meia que 20 anos antes fora protagonista da volta do San Lorenzo à elite, um ano depois do ainda único rebaixamento cuervo. A revelação Walter Montillo por sua vez já havia estreado, mas uma lesão o impediu de atuar na campanha continental.

 

 

Fora Insúa, outras das principais contratações foram o volante José Chatruc, que participara em 2001 da quebra de jejum nacional de 35 anos do Racing; e o atacante Rodrigo Astudillo, do Estudiantes e que estivera no título da última Copa Conmebol, em 1999, do Talleres. Como a Sul-Americana, a Conmebol era travada como consolação dos não-classificados para a Libertadores.

A bicicleta do veterano Acosta contra o Monaguas, o artilheiro Astudillo contra o Bolívar e o técnico Insúa com a taça

Na primeira Sul-Americana, porém, os argentinos forneceram os mesmos classificados à Libertadores de 2003: os campeões da temporada 2001-02, Racing (Apertura) e River (Clausura), e os outros dois melhores na tabela agregada dela, Boca e Gimnasia LP. Os quatro se enfrentaram na caseira fase inicial, enquanto o San Lorenzo, campeão da Mercosul, pegou o vencedor de uma preliminar, entre venezuelanos.

O primeiro oponente do Ciclón foi o Monaguas, que não deu muito trabalho nas oitavas. Na ida, na Venezuela, perdeu por 3-0, com direito a gol de bicicleta do veterano Acosta; na volta, levou de 5-1 de uma escalação quase reserva (José Ramírez, Félix Benito, Rodríguez, Leandro Álvarez, Esquivel, Pablo Zabaleta, Mariano Herrón, Alexis Cabrera, Damián Luna, Astudillo e Carlos Cordone). As fases mais complicadas seriam as duas seguintes.

Saja esperou Gerardo Bedoya chutar e, sem saltar, espalmou a cobrança deste no meio do gol. Acosta também chutou no meio, mas o racinguista Gustavo Campagnuolo, ex-San Lorenzo, pulou para o canto e não interceptou. Depois, Milito carimbou o travessão.Nas quartas, um duelo caseiro.

Sixto Peralta abriu o placar para o Racing aos 16 minutos no Nuevo Gasómetro, mas, já no segundo tempo, um de Paredes e dois do veterano Acosta selaram a vitória mandante. Só que, em sua Avellaneda, os blanquicelestes venceram por 2-0, com Nicolás Pavlovich e Diego Milito. Como não havia critério de gols fora, vieram os pênaltis.

O golaço imortal de “Pipi” Romagnoli da final, desenhado

A seguir, Morel e Peralta marcaram, e Nicolás Frutos cometeu o único erro do CASLA, no travessão. Carlos Arano, Romagnoli e Maximiliano Estévez converteram. Na última cobrança, Saja deslocou seu antigo concorrente no gol azulgrana e classificou os visitantes no Cilindro ao acertar o canto.

Nas semis, pegou-se o Bolívar, que eliminara o Gimnasia e conseguiu um 2-1 de virada aos 42 do 2º tempo em La Paz. Em Buenos Aires, a definição ia para os penais até o oportunista Astudillo marcar um gol salvador a dez minutos do fim, colocando um 4-2 no placar que chegou a apontar 3-0 para os argentinos, com Chatruc, Michelini e outro de Astudillo. Ainda no 1º tempo, os adversários haviam diminuído perigosamente, com Joaquín Botero e Gonzalo Galindo.

O outro finalista foi o Atlético Nacional. Há 15 anos, o Nuevo Gasómetro recebeu capacidade máxima de 45 mil cuervos para os festejos aos virtuais campeões. Pois o comemorado 0-0 ocorreu duas semanas após a taça ser praticamente assegurada: em plena Medellín, os argentinos, com Saja, Esquivel, Rodríguez, Morel Rodríguez, Paredes, Chatruc, Michelini, Zurita, Romagnoli, Astudillo e Acosta (a equipe-base na campanha), aplicaram um 4-0. A única mudança titular na volta foi Herrón no lugar do lesionado capitão Michelini.

O placar na Colômbia fora aberto logo aos 2 minutos por Saja, em nova demonstração de personalidade ao bater pênalti, onde deslocou Edigson Velásquez. Aos 25, o oponente Juan Carlos Ramírez fez contra ao tentar afastar bola cabeceada por Michelini em direção para gol certo de Acosta. 

Saja e Michelini celebrando os gols do primeiro tempo em Medellín e Romagnoli fazendo o seu

Aos 7 do 2º tempo, Romagnoli, que chegou a lesionar-se gravemente no ano (e praticamente cavara o pênalti convertido por Saja após dar belo passe para Acosta), fez gol de craque: deixou dois adversários para trás em corrida do meio à grande área e levou a melhor sobre outros marcadores antes de tocar cara-a-cara com Velásquez.

O maestro do time viria a ser o único presente em todas as conquistas continentais do clube, participando da Libertadores de 2014 embora seja ironicamente filho de torcedor do arquirrival Huracán, tendo treinado na infância nos infantis dos vizinhos.

Por falar em Huracán, os números finais dos 4-0 daquela decisão foram dados por Astudillo, que coroava uma ascensão meteórica ao somar seu quarto gol no torneio, o que lhe fez artilheiro da competição. Já estava de bem com a torcida ao marcar três no último clássico, pelo Apertura 2002, em um 4-0 dentro do reduto rival de Parque de los Patricios – Astudillo ainda é o único a conseguir um hat trick no clássico na casa do rival, rebaixado ao fim da temporada.

Essa fase áurea do San Lorenzo teria epílogos no ano seguinte, com o vice na Recopa e no Apertura. Desde então, um brilho esporádico no título no Clausura 2007 seguido de terceiro lugar no Apertura 2008, a séria ameaça de rebaixamento em 2012 e a redenção “papal” a partir de 2013, iniciando novo período bissexto de glórias contínuas para os lados dos bairros de Boedo e Flores.

Morel Rodríguez, Saja, Michelini, Gonzalo Rodríguez, Astudillo e Chatruc; Zurita, Paredes, Acosta, Esquivel e Romagnoli
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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