Especiais

13 nomes para os 130 anos do Rosario Central

Palma, Bauza, Poy e Kempes foram os quatro escolhidos para a capa da El Gráfico que elegeu em 2012 os maiores ídolos canallas. Os quatro, claro, estão no nosso time dos sonhos do Central

“Mais do que história, temos mitologia”, gaba-se a torcida do Club Atlético Rosario Central em declaração ressaltada pela arroba tuiteira Legión Canalla em seu fio sobre a história do Gigante de Arroyito, a casa dos auriazuis. Em 2014, já havíamos contado sobretudo os primórdios dos 125 anos de “canalhice” no futebol argentino, neste outro Especial, já explicando como em Rosario o termo canalla remete primordialmente ao torcedor centralista e não a pessoa vil. Ontem, foi a vez da noite feliz na cidade também se confundir com 130 anos festejados pela mais numerosa torcida do interior argentino. Vale assim complementar, por meio de 13 nomes, aquela nota de 2014: se em outros times escalamos um time dos sonhos do goleiro ao treinador, a longa e rica história do Central exigirá ainda um reserva de luxo.

Eis os nomes, aos quais priorizamos jogadores campeões (mesmo que na segunda divisão nacional ou em títulos provinciais, prestigiados antes da liga argentina enfim admitir times rosarinos a partir de 1939) e/ou a serviço da seleção como atletas do clube. Quem não cumpriu ao menos um desses requisitos, ainda que tenha depois se tornado um Ángel Di María da vida, sequer foi considerado:

GOLEIRO: o ex-santista Américo Menutti (1971), Claudio Biasutto (1973), Daniel Carnevali (1980), Alejandro Lanari (1987) foram os titulares nas quatro conquistas centralistas na elite. Héctor Ricardo (1942), que chegaria à seleção, Pedro Bottazzi (1951) e Jorge Fossati (1985) venceram a segundona, assim como fez em 2013 o arqueiro Mauricio Caranta, que um ano depois ainda foi finalista com o clube na Copa Argentina. A dupla contemporânea Roberto Bonano e Roberto Abbondanzieri integrou o plantel vencedor da Copa Conmebol de 1995. Todos bons nomes, alguns ídolos, mas todos também coadjuvantes nessas conquistas. Um nome que pôde ser protagonista incontestável é o do ex-vascaíno Edgardo Andrada: afinal, embora não tenha sido contemplado com qualquer troféu, é o goleiro recordista em jogos pelo clube, representando-o na seleção e logrando as melhores campanhas canallas na elite antes do título inaugural.

Só que Andrada passou ao ostracismo da torcida desde que escancarou-se seus serviços à ditadura. Assim, preferimos alguém ainda mais destacado a nível nacional: Octavio Díaz. Sobrinho de outra figura histórica no clube, Zenón Díaz (primeiro jogador latino de destaque no Central e um dos primeiros na seleção), El Oso (“O Urso”) fazia jus ao apelido. Tinha um físico robusto que sabia aproveitar para cobrir sua meta, defendida por onze anos entre o fim dos anos 10 e o início dos anos 30. Multicampeão na liga rosarina, serviu regularmente a seleção, sobretudo entre 1926 e 1928, ganhando como titular a Copa América de 1927 (a primeira fora de casa da Albiceleste) e a prata olímpica em 1928. Teria ido à Copa de 1930 não fosse uma inoportuna greve no futebol rosarino.

LATERAL-DIREITO: Campeão em 1971 e em 1973, Mario Killer serviu a seleção na época, ao passo que Juan Carlos Ghielmetti venceu em 1980 e Hernán Díaz conquistou em 1987 o primeiro de seus inúmeros títulos argentinos antes de levantar os restantes com o River. Mas não há concorrência párea com o saudoso Jorge González. Afinal, era ele e não Killer o dono da posição em 1971 e em 1973. É ele o recordista de jogos pelo clube, defendido por esse uruguaio por cerca de quinhentas vezes entre 1966 e 1978. El Negro é inclusive o estrangeiro com mais partidas na liga argentina, rendendo-lhe placa até no museu do estádio Centenário, em sua Montevidéu natal.

ZAGUEIROS: Federico Vairo (campeão da segundona em 1951), Néstor Cardoso (anos 60), a dupla setentista Aurelio Pascuttini e Daniel Killer (reserva da Argentina campeã de 1978, já como atleta do Racing) estão entre ídolos clássicos. Pesam mais, porém, a categoria aliado ao elemento ofensivo surpresa de Edgardo Bauza e Horacio Carbonari. Campeão em 1980 e em 1987 antes de treinar o elenco semifinalista da Libertadores e tirar os canallas do jejum de décadas com a Copa Argentina de 2018, El Patón Bauza é simplesmente o quarto maior zagueiro-artilheiro do futebol a nível mundial. Só pelo Central foram 82 gols em 322 jogos, fazendo dele o 6º maior goleador do clube e nada menos que o profissional com mais gols no Clásico Rosarino. Foi também esse defensor o artilheiro de La Sinfónica, como foi apelidado o elenco campeão em 1980.

Indaco como primeiro agachado e o goleiro Díaz nos anos 20. O uruguaio González. E, atrás de César Delgado, o veterano Carbonari em sua segunda passagem, nos anos 2000

Carbonari, por sua vez, fez expressivos 39 gols em 209 jogos, divididos em duas passagens. Quatro deles saíram na campanha vencedora da Copa Conmebol de 1995, incluindo dois na reviravolta na decisão contra o Atlético Mineiro – uma traulitada em falta de 39 metros anotou o segundo e um cabeceio no antepenúltimo minuto devolveu os 4-0 sofridos no Mineirão, forçando a decisão por pênaltis na qual Bazooka converteu o dele. Sua efusiva comemoração nas grades do Gigante de Arroyito após o empate simbolizou uma das grandes epopeias do futebol sul-americano.

LATERAL-ESQUERDO: o selecionável José Antonio Chamot (início dos anos 90) e o talismã Germán Pirulo Rivarola (protagonista do Pirulazo ao anotar o gol que classificou o Central no Clásico Rosarino continental válido pela Sul-Americana 2005) foram lembrados pela El Gráfico que elegeu em 2012 os maiores ídolos centralistas, mas esbarram naquele nosso critério objetivo. Poderíamos ficar com Jorge García, campeão em 1980, mas pesa aqui a fidelidade de Alfredo Fógel, o segundo homem com mais jogos pelo clube. Se está atrás do Negro González em partidas, o supera em anos: marcou os pontas adversários entre 1936 e 1954. Vivenciou os dois primeiros rebaixamentos, em 1942 e 1950? Esteve na imediata conquista da segunda divisão. Ganhou ainda duas ligas rosarinas antes da admissão do clube no campeonato argentino, em 1939, desprestigiar o torneio local. Fógel também esteve na seleção vencedora da Copa América de 1945.

MEIAS: como volantes, Carlos Griguol (anos 60), Carlos Aimar (campeões de 1971 e 1973), Adelqui Cornaglia (1987), Pablo Vitamina Sánchez e Eduardo Chacho Coudet (dupla da Conmebol 1995) e mesmo o fanático Kily González cairiam bem. Mas a habilidade de Roberto Gasparini no título de 1987 era reconhecida de modo especial. Mesmo recuado, era visto como um construtor de jogadas e marcou ótimos oito gols na campanha sete anos após ter liderado a surpresa Racing de Córdoba vice para a o próprio Central no Torneio Nacional de 1980. Renomeado em honra a Mario Kempes pelos serviços do Matador à seleção, o estádio Chateau Carreras, principal palco do futebol cordobês, também nomeou cada setor de arquibancada em referência ao quarteto local principal. Nisso, Daniel Willington representa o Talleres, Osvaldo Ardiles personifica o Instituto, Luis Fabián Artime simboliza o Belgrano e a categoria de Gasparini o fez sinônimo do Racing local.

Adversário de Gasparini em 1980, colega dele em 1987 e depois colega de Sánchez e Coudet em 1995, Omar Palma é um nome muito mais óbvio. Foram quase duas décadas de serviços muito bem prestados pelo Negro, presente ainda no título da segundona em 1985 para emenda-lo com título e artilharia do torneio seguinte na elite, em raríssimo bicampeonato do tipo. Já dedicamos este Especial a esse predestinado, que com o tempo passou a jogar cada vez mais recuado, fazendo dupla também com Kily González – que, ao ser indagado certa vez pela El Gráfico que “uma vez, Maradona te perguntou quem era teu ídolo e você o disse que era El Negro Palma. Qual foi a reação dele?”, respondeu “me mandou à merda” para então justificar que “para mim, Omar é único. Eu o desfrutava todos os domingos como torcedor e depois joguei com ele. Foi um sonho realizado”. Pela meia-esquerda, o nome de César Menotti chama a atenção independentemente da consagração de El Flaco como técnico da Argentina de 1978. Como jogador canalla, foram 46 gols em 86 jogos no início dos anos 60, mas insuficientes para qualquer título.

Assim, ousamos em um campeão esquecido, ainda que restrito à liga rosarina: Luis Indaco, afinal, fez 101 gols (quinto maior artilheiro) em 140 jogos, detendo média ainda melhor. Mesmo que em tempos menos retranqueiros do esporte, era reconhecido como um dos maiores dribladores de sua época e defendeu o clube quase que ininterruptamente entre 1922 e 1932, salvo um período na virada de 1925 para 1926 onde passou pelo Platense bronze na liga argentina e pelo maior campeão italiano, o Genoa, para então fazer a saudade por Rosario prevalecer. Menção válida para Ennis Hayes, ainda mais goleador (133 bolas na rede, que fazem dele o segundo maior artilheiro auriazul), mas com temperamento difícil ao passo que Indaco era reconhecido por driblar de modo objetivo: em 1928, surpreendeu o Barcelona com pedaladas em um 4-0 pela seleção rosarina. Indaco anotou os quatro gols, três deles em espaço de oito minutos antes da metade do primeiro tempo.

ATACANTES: pela ponta-direita, talvez o personagem mais festejado clube. Literalmente, inclusive. A cada 19 de dezembro, Aldo Poy, que também sabia atuar com meia-armador, precisa reencenar o peixinho que rendeu em pleno Clásico Rosarino a classificação à final do vitorioso Nacional de 1971. Crescia mesmo nesses duelos: dos seus 67 gols, um décimo (seis) foram contra o grande rival, rendendo-lhe uma popularidade eterna reconhecida nas reeleições como vereador, conforme contamos neste Especial dedicado ao bigodudo. Mais do que folclore, o primo em segundo grau do ídolo são-paulino José Poy só defendeu o Central na carreira e foi o primeiro jogador a representar o clube em uma Copa do Mundo, já em 1974 – ao lado de Mario Kempes. El Matador calhou de só reforçar os canallas após o bi em 1973, mas assombrou com 94 gols em 123 jogos. Em números relativos e em absolutos, ninguém fez mais gols do que ele pelo clube na elite profissional argentina.

Fógel nos anos 40, Gasparini nos 80 e García nos 30

Ele ainda o segundo profissional centralista com mais gols no rival: sete, incluindo o da classificação em plena Libertadores, em 1975. Ou oito, pois mesmo aposentado e quarentão, marcou outro em vitória amistosa em 1995. Já dedicamos, é claro, um Especial apenas a Kempes. Só fatores extracampo impediram páginas ainda mais bonitas: ele se mandou para a Espanha pouco após o golpe militar de 1976, levando sua família peronista consigo, ainda que não se abstivesse de jogar o mundial de 1978 – no qual só veio a desencantar ao voltar ao Gigante de Arroyito pela segunda fase de grupos. Já pela ponta-esquerda, a oferta é generosa. O temperamental Juan Francia, dos anos 20, segue sendo o único a defender a seleção como jogador de ambos da dupla rosarina. Ernesto Vidal, dos 40, se tornaria com o meia-direita Juan Hohberg o primeiro vencedor de Copa do Mundo saído do futebol rosarino, ambos pelo Uruguai de 1950. Além de efetivo, Claudio Scalise, já do time de 1987, demonstrava publicamente amor ao manto canalla mesmo defendendo outros clubes.

Acontece que Enrique García é considerado o maior nome da posição no futebol argentino. E já era visto assim enquanto atuava e não por revisionismo saudosita. Mesmo sem títulos provinciais, El Chueco pôde deslumbrar os canallas de 1933 a inícios de 1936, servindo desde ali a seleção (faturou duas Copas América e outras duas Copas Roca). Ídolo de infância de Che Guevara, El Poeta de la Zurda, “O Poeta da Canhota”, rendeu a mais cara transferência do futebol rosarino quando foi adquirido pelo Racing em meados de 1936. Seu outro apelido era El Chueco, “O Torto”, pelo jeito de andar que não atrapalharia nem seu congênere Garrincha. Já dedicamos este Especial ao Chueco García no dia em que o ponta teria feito cem anos.

RESERVA DE LUXO: só um fenômeno como Kempes para abreviar discussões para o centroavante desse time que já teve de Rubén Bravo a Marco Ruben, igualmente descartáveis com facilidade diante de Waldino Aguirre, o profissional com mais gols pelo clube, ao longo dos anos 40. El Torito anotou 97 e acaba por realçar a grandeza de Kempes, que só fez dois a menos, mas em bem menos antes e em bem menos jogos. Além disso, um terço dos gols de Aguirre (que precisou de 190 partidas) saíram em jogos de segunda divisão, pois nem ele evitou os rebaixamentos de 1942 e 1950. Se Aguirre é o profissional mais goleador, o maior artilheiro geral do clube é Harry Hayes, que toma essa 12ª posição.

Irmão mais velho do citado Ennis Hayes, El Inglés foi um fenômeno: de família ligada à ferrovia, estreou ainda com 13 anos no time adulto e defendeu-o dos anos 1900 aos anos 20, conjuntamente com a seleção, onde cansou-se de fazer gols em duelos com Friedenreich. Pelo Central, Hayes tem documentados 174 gols em 180 jogos e múltiplos títulos rosarinos. Ele também é o maior goleador do Clásico Rosarino, com 21. Só perde para Kempes diante do fato relativizador de que jogou em tempos sem maiores preocupações defensivas. Seu filho, Harry Hayes Jr, também defenderia o clube, já no profissionalismo. Já dedicamos este Especial ao Harry Hayes original.

TÉCNICO: rara posição dessa lista onde não há maior espaço para discussões. Apenas é válido mencionar que Mario Fortunato (1942), Enrique Palomini (1951), Pedro Marchetta (1985), Miguel Ángel Russo (2013) venceram a segunda divisão ao passo que Ángel Labruna (1971) e Carlos Griguol (1973) ganharam a primeira. Ainda que Edgardo Bauza tenha levado o time às semifinais da Libertadores de 2001 e encerrado jejum com a Copa Argentina de 2018 ou que Eduardo Coudet pudesse ter superado os diversos vices sofridos entre 2015-16, Ángel Tulio Zof é “o” nome centralista no posto. É o recordista de jogos e de passagens. Foram mais de dez entre 1970 e 2005, e somente ele foi campeão mais de uma vez. E que títulos: os dois últimos na elite, em 1980 e em 1987, e a épica Copa Conmebol de 1995. Ninguém em Rosario se lembra que ele, ex-jogador do clube nos anos 50, começou no rival a nova carreira, em 1965. Já dedicamos este Especial póstumo a Zof.

O goleador-mor Hayes, desde os treze anos no time principal, defendeu-o dos anos 1900 aos 20. Quando instruía o jovem Di María em 2005, Zof já tinha ciclos como técnico canalla havia mais de 40 anos

É claro que mesmo em duas notas será impossível reproduzir fielmente uma história que chegou a treze décadas. A quem se interessar por mais detalhes, inevitavelmente os mais célebres da rica trajetória canalla já foram abordados ao longo dos nossos humildes dez anos de existência, no especiais abaixo:

60 anos sem Ennis Hayes, o primeiro grande “bad boy” do futebol argentino

Clásico Rosarino está de volta

35 anos atrás, o clássico rosarino tinha seu último vira-casaca. Recorde mundial?

20 anos sem Juan Hohberg, o argentino que quase eliminou a Hungria da Copa de 1954

César Luis Menotti, o técnico da Copa 1978 que a seleção teve graças ao Juventus-SP

80 anos de Edgardo Andrada: (muito, mas muito) além do gol 1.000

Centenário de Ángel Labruna

Há 40 anos uma pomba voava para nunca mais pousar

45 anos do primeiro título argentino do interior: o do Rosario Central em 1971

40 anos do 2º título argentino do Rosario Central

Mário Sérgio e sua passagem menos conhecida: colega de Bauza no Rosario Central

35 anos do 3º título nacional do Rosario Central, com Edgardo Bauza de artilheiro

Rosario há 30 anos: Central campeão argentino, Newell’s vice

O festejo icônico de Carbonari ao anotar o 4-0 no Atlético Mineiro. Os pênaltis para definir a Copa Conmebol de 1995 já pareciam formalidade, mesmo diante de Taffarel. E foram

Há 20 anos, Kempes voltava a fazer o Newell’s de freguês no clássico rosarino

20 anos de uma das maiores reviravoltas do futebol: a Copa Conmebol do Rosario Central

Há 20 anos, o Rosario Central jogava em Manaus – contra o Flamengo

Crise Central em Rosário

Os títulos anteriores de Central na 2ª e Newell’s na 1ª

Top 10 Grandes viradas do futebol argentino

10 retornos veteranos de sucesso na Argentina

Ídolos de River Plate e Rosario Central

Elementos em comum entre Boca e Rosario Central

Elementos em comum entre Gimnasia LP e Rosario Central

Elementos em comum entre Palmeiras e Rosario Central

Elementos em comum entre Grêmio e Rosario Central

Elementos em comum entre São Paulo e Rosario Central

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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