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105 anos do San Lorenzo de Almagro

Há exatos redondos 105 anos, em 1 de abril de 1908, fundava-se o clube argentino mais presente recentemente na mídia: o San Lorenzo. Mas, antes mesmo de ficar famoso como o time do recém-eleito Papa Francisco, a equipe azulgrana já tinha sua história bastante retratada aqui no Futebol Portenho – conforme vários outros especiais disponibilizados nesse, de acordo com a cronologia de seus fatos.

Início

Bairros ligados ao San Lorenzo no mapa de Buenos Aires: das origens (Almagro), o tradicional (Boedo), o seguinte (Nueva Pompeya), o atual (Flores) e o do rival (Parque Patricios)

Especial: Novo Papa é torcedor de “Los Santos”

Especial: Os verdadeiros clássicos argentinos

Especial: O clássico do bairro

Especial: Huracán vs San Lorenzo: as figuras que defenderam ambos os rivais

Os primórdios, por exemplo, estão no especial engatilhado por Sua Santidade: garotos que praticavam futebol nas ruas do bairro de Almagro foram acolhidos pelo jovem padre Lorenzo Massa, que lhes forneceu um terreno já no bairro vizinho de Boedo. As origens seriam para sempre lembradas no nome Club Atlético San Lorenzo de Almagro, mas desde cedo a instituição se fincaria em Boedo.

Foram necessários sete anos para a estreia na elite argentina. O CASLA chegou lá em 1915, como vice do Honor y Patria na segundona de 1914.

No mesmo 1915, duelou pela primeira vez contra a equipe que seria seu rival de bairro: o Huracán, do vizinho Parque Patricios e também fundado em 1908 (em outubro). O primeiro dérbi já demonstraria a larga superioridade sanlorencista no confronto, conhecido justamente como El Clásico Desparejo (“o clássico desparelho”): 3-1, de virada. O primeiro vira-casaca esteve já ali: Federico Braña, do lado vencedor, havia subido com o Huracán para a elite dois anos antes.

O jogador-símbolo do início na primeira divisão foi Jacobo Urso: em uma partida de 30 de julho de 1922, continuou em campo mesmo após fraturar uma costela em choque contra adversário do Estudiantes de Buenos Aires, para não deixar os colegas em desvantagem numérica. Uma semana depois, após duas operações, veio a falecer. Nos 50 anos do clube, lhe dedicaram uma placa com as inscrições “ao completar meio século de vida, o Club Atlético San Lorenzo de Almagro, que tu tanto amaste, te aclama como perfeito esportista”. Urso nomeou um dos setores do Estádio Gasómetro e dá nome também ao museu virtual do clube.

Jogadores do San Lorenzo posando com os do Honor y Patria antes da final da segunda divisão de 1914, disputada em 1 de janeiro de 1915

O San Lorenzo floresceu na década de 1920. No ano seguinte à morte de Urso, veio o primeiro título na elite, na liga que reunia as principais equipes. Novos viriam em 1924 e 1927. Eram os anos dos goleadores Diego García (segundo maior artilheiro cuervo, com 164 gols registrados), Juan José Maglio, Lindolfo Acosta e Alfredo Carricaberry, do ponta Arturo Arrieta e dos defensores José Fossa, Pedro Omar e Luis Monti, vice mundial com a Argentina em 1930 e campeão com a Itália em 1934 (único a jogar duas finais de Copa por países diferentes).

De treze em treze

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Em 1933, veio o primeiro título profissional: em um torneio em que o 5º colocado ficou com quatro pontos a menos, o CASLA, embalado ainda com García, Ricardo Alcarón, Gabriel Magán e o brasileiro Petronilho de Brito (irmão de Valdemar de Brito, descobridor de Pelé), impediu o tri seguido do Boca Juniors, vice com um ponto a menos. Ainda hoje, o Boca não conseguiu um tri. A rivalidade com ele floresceria em parte porque, até 2011, o time de Boedo era um dos poucos com retrospecto favorável nos confrontos diretos com os boquenses.

Pelo restante da década de 30, o clube seguiu nas cabeças e atraiu ainda a simpatia da comunidade espanhola, ao contratar Ángel Zubieta, José Iraragorri e o goleador Isidro Lángara, membros da Furia em fuga da Guerra Civil na Espanha. Os numerosos gols de Lángara (quatro apenas no primeiro tempo de sua estreia, contra o River Plate), porém, não renderiam títulos.

Apenas Zubieta seria campeão, integrando o elenco vencedor de 1946, onde o ataque era formado pelo chamado Terceto de Oro: Armando Farro, Rinaldo Martino e René Pontoni, figuras da seleção argentina tricampeã seguida na Copa América (recorde exclusivo da Albiceleste) entre 1945 e 1947. Outro ídolo era o goleiro iugoslavo Mierko Blazina.

Time de 1933. O brasileiro Petronilho é o terceiro agachado

Martino iria ainda à Juventus, tirando-a em 1950 de um jejum de 15 anos sem títulos. Martino se tornaria o primeiro negro na seleção italiana e Basso, após passar pela Internazionale, viria ao Botafogo, onde foi considerado duas vezes o melhor defensor da história do clube mesmo com apenas 20 partidas nele.

O título de 1946 veio após seguidas campanhas próximas da taça, mas por uma década depois a equipe terminou normalmente na 5ª colocação ou abaixo. Após dois vices seguidos, em 1957 e 1958, novo troféu enfim viria em 1959, na esteira dos gols de José Sanfilippo. Entre 1958 e 1961, El Nene foi quatro vezes seguidas artilheiro do campeonato. Revoltado com os dirigentes ao perder a quinta – para supostamente não receber uma premiação que teriam lhe prometido -, ele foi jogar no Boca em 1963, sendo vice da Libertadores.

Nem só de Sanfilippo a equipe vivia: no início dos anos 60, boa parte dos gols eram de Omar García, Norberto Boggio, Héctor Facundo e Oscar Rossi, que fez o primeiro da Libertadores, contra o Bahia, em 1960. Marcado como único dos cinco grandes (Boca, River, Racing e Independiente são os outros) ainda sem vencer a competição (fazendo com que os rivais “traduzam” a sigla CASLA como Club Atlético Sin – “Sem” – Libertadores de América), ironicamente só parou nas semifinais da primeira, para o futuro vencedor Peñarol.

A nova década se iniciaria com o manto azulgrana fazendo sucesso em irreverentes garotos; eram Los Carasucias (“Os Cara-Sujas”, gíria para “moleques”): Narciso Doval (de grande sucesso por Flamengo e Fluminense), Fernando Areán, Victorio Casa e os de maior apelo, Héctor Veira e Roberto Telch.

Auge e queda

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A “escrita” de treze anos entre uma taça e outra acabaria em 1968, e em alto estilo: sob o comando técnico do brasileiro Tim, o San Lorenzo tornou-se o primeiro campeão argentino profissional de forma invicta. Los Carasucias viraram então Los Matadores. Também se destacavam o goleiro Carlos Buttice (ídolo no Bahia), os defensores José Albrecht, Oscar Calics, Sergio Villar (quem mais jogou pelo clube), os meias Alberto Rendo e Victorio Cocco, o ponta Miguel Tojo e os atacantes Pedro González, Rodolfo Fischer e Carlos Veglio.

Os bicampeões de 1972

Depois de um desmanche oriundo de crise financeira, vieram as conquistas dobradas de 1972, onde faturou-se os dois torneios que desde 1967 dividiam o calendário das grandes equipes: o Metropolitano e o Nacional. Remanescentes de 1968, como Villar, Cocco, Telch e Veglio, somaram-se a novos valores, com destaque para os defensores Rubén Glaria, Ricardo Rezza, Ramón Heredia e Antonio Rosl, o raçudo meia Roberto Espósito e Enrique Chazarreta e o atacante Rubén Ayala. E ainda houve o regresso do agora veterano Sanfilippo. O San Lorenzo foi o primeiro bicampeão anual no país.

O último título do período, que reservou em 1973 nova semifinal na Libertadores, veio no Nacional de 1974, que marcou a explosão do atacante Héctor Scotta (irmão do ex-gremista Néstor Scotta). No ano seguinte, este faria 60 gols na elite argentina, ainda um recorde. Também se destacavam o ponta Óscar Ortiz e o zagueiro Jorge Olguín, campeões mundiais em 1978. O ciclo inclusive ofuscou grande momento do rival Huracán, campeão profissional pela única vez em 1973. A crise financeira, porém, não deixou Boedo e seria o San Lorenzo quem deixaria o bairro.

Interessada nos valorizados terrenos do estádio Gasómetro, o maior da Argentina, a ditadura que comandava o país pressionou a instituição a vende-lo apenas para que, anos depois, a área ficasse com a rede de hipermercados Carrefour. O pior momento viria em 1981: menos de dez anos após o ápice, o San Lorenzo tornou-se o primeiro grande clube argentino rebaixado, vexame não vivenciado ainda nem pelo rival Huracán. A comoção foi tão grande que implantou o famigerado sistema de promedios para novos rebaixamentos, a fim de proteger os grandes.

A segunda divisão seria imediatamente conquistada, em uma campanha lembrada por episódios marcantes, como o jogo contra o Tigre com 75 mil sanlorencistas no Monumental de Núñez, ainda hoje o maior público de um jogo do campeonato argentino considerando todas as divisões. O dono do estádio, o River Plate, só o encheu mais na final da Libertadores de 1996. A outra única maior audiência foi na final da Copa do Mundo de 1978.

Ressurgindo

Especial: Torcedores de um, jogaram no rival

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San Lorenzo: Boedo, um lugar para chamar de seu

Os recordistas campeões de 2001

A volta da segundona por muito pouco não foi emendada com um título na elite: o campeão Independiente só ficou com um ponto a mais que o time de Rubén Insúa e Jorge Rinaldi em 1983. O boom inicial, porém, não se manteve; a maior parte do restante da década reservou campanhas apenas regulares, com exceção para os semifinalistas da Libertadores de 1988, do plantel conhecido como Los Camboyanos pela contínua luta em meio à precariedade: Luis Malvárez, Norberto Ortega Sánchez, Blas Giunta, Leonardo Madelón, Walter Perazzo e o célebre goleiro José Luis Chilavert estavam entre eles.

Dez anos depois do vice de 1983, a equipe enfim encerraria um período sem casa própria: em 1993, ergueu-se o Nuevo Gasómetro, que, porém, nunca cairia totalmente no gosto azulgrana. O motivo? Não estar em Boedo, e sim no sul do vizinho Flores (inicialmente, ficava em Nueva Pompeya, até um realinhamento posterior). Apenas ao fim de 2012 a justiça argentina reconheceria o direito histórico da volta a Boedo, com a retirada do Carrefour sendo prevista ao pagamento de indenização levantada pelos torcedores.

Ainda assim, o Nuevo Gasómetro logo testemunhou novo título argentino: em 1995, com um elenco onde se destacavam o brasileiro Silas, o hondurenho Eduardo Bennett, o amuleto Esteban González, o artilheiro Claudio Biaggio, o endiabrado Roberto Monserrat e o veterano Óscar Ruggeri (o único campeão e jogador de seleção pelos três grandes de Buenos Aires: Boca, River e San Lorenzo), o CASLA encerrou um jejum de 21 anos sem taças na elite. O técnico era o mesmo Veira ídolo nos anos 60 e eleito no centenário o principal personagem da instituição.

O Clausura 1995 estabeleceu novos títulos nacionais bissextos, agora de seis em seis anos. No último, em 2007, destacou-se a revelação Ezequiel Lavezzi. Já o de 2001, com Sebastián Saja, Fabricio Coloccini, Pablo Michelini, Bernardo Romeo, Raúl Estévez e Leandro Romagnoli, teve ainda a maior sequência de vitórias no país: treze. A campanha coroou ainda as trajetórias de antigos ídolos ainda sem taças, como o uruguaio Sebastián Loco Abreu e, mais longe, a antiga dupla ofensiva do início dos anos 90, Alberto Acosta e Leonardo Rodríguez (reserva de Maradona na Copa de 1994).

Aquela base de 2001 conseguiu também os únicos troféus internacionais cuervos, a Copa Mercosul de 2001 e a Copa Sul-Americana de 2002. Romagnoli, ainda no clube, vem carregando-o de nova decadência; por bem pouco, a equipe não caiu em 2012 e, por enquanto, vem fazendo campanha segura contra novo descenso.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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