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Um ano sem a “casquinha de sorvete” goleadora do Newell’s

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Cucurucho é como os argentinos chamam aquela casquinha para sorvete. E era assim que era apelidado o ponta-direita Santiago Santamaría, um dos maiores ídolos do Newell’s Old Boys. Pudera: embora não fosse um centroavante e e não fosse exatamente um jogador dos mais regulares nem tão hábil, era tenaz e, principalmente, é o quarto profissional com mais gols pela Lepra, 90. Mais ainda, é também o profissional com mais gols no clássico com o Rosario Central, 9, ao lado de Edgardo Bauza, ex-zagueiro do arquirrival e hoje técnico do San Lorenzo praticamente finalista da Libertadores.

Nascido em 22 de agosto de 1952 em San Nicolás de los Arroyos, cidade mais próxima de Rosario do que da capital federal embora seja da província de Buenos Aires, Santamaría começou a carreira já no Newell’s em 1971, entrando em jogo contra o Racing substituindo o brasileiro Heraldo Bezerra. Os rubronegros nunca haviam chegado tão perto do título argentino e pararam só nas semifinais. O problema é que foi justo diante do Rosario Central, que ainda por cima seria adiante campeão, pela primeira vez. A revancha demorou três anos, quando os leprosos ganharam seu primeiro título após outro clássico, empatando em 2-2 na casa adversária após estarem perdendo de 2-0. Na campanha, o ponta marcou oito gols em 15 jogos.

Após o título de 1974, o primeiro argentino vencido pelo NOB, Santamaría passou cinco anos no francês Stade de Reims, perdendo a maior parte do ciclo de César Menotti à frente da seleção. Menotti foi o primeiro a apostar largamente em jogadores do interior e, em tempos onde ir ao exterior afastava jogadores da seleção, El Cucurucho, que já havia sido um dos pré-convocados à Copa 1974, perdeu a chance de ir à Copa 1978 (o mesmo se passou com o então superartilheiro Carlos Bianchi, seu colega no Reims). Voltou ao país em 1979 recusando ofertas de Boca, então bicampeão da Libertadores, e River para voltar ao Newell’s, e um ano depois ele enfim estreou pela Argentina.

Santamaría jogou oito vezes pela Albiceleste em 1980, marcando um sobre a Áustria em Viena e outro na Bulgária. Mas depois pediu dispensa de novas convocações por motivos pessoais. Mesmo assim, acabou convocado à Copa 1982, sendo a grande surpresa de Menotti: ele vinha trabalhando com 25 pré-convocados desde fevereiro e anunciou o corte de quatro ao invés de três (na época a lista final era de 22 nomes e não 23): Enzo Bulleri, Jorge Gordillo, Raúl Chaparro e o mencionado Bauza, para em seguida anunciar o reingresso do Cucurucho. Na Espanha, Santamaría jogou dez minutos contra El Salvador e 36 contra o Brasil.

Sobre a curiosa convocação, o ponta relatou que “havia renunciado à seleção nos fins de fevereiro por um problema pessoal, mas seguia me sentindo parte do plantel, porque Menotti foi como um pai para mim, me conhecia de Rosario desde há mais de dez anos. Meu nível no torneio nacional era bom e senti que poderia ter possibilidades. O corpo técnico se comunicou comigo e lhes disse que meus incovenientes já estavam solucionados, então me confirmaram que voltaria a ser parte desse grupo excelente. Fui ao mundial, estive em dois jogos e foi uma grande experiência para mim”.

Santamaría foi pensado como um sucessor de René Houseman na seleção, mas não se consolidou como o antigo craque do Huracán e não jogou mais pelo país após a eliminação na Copa. Mas de fato seu nível vinha bem. Em 7 de março daquele ano, o Newell’s recebeu em casa o velho rival. Venceu por 2-1. Com dois gols do Cucurucho: um repetindo uma cobrança de pênalti que errara mas que o árbitro ordenara ser repetida pelo adiantamento do goleiro Daniel Carnevali, e a outra também em bola parada, acertando uma cobrança de falta a 20 metros do gol. Festejou os dois em frente à torcida centralista.

Santamaría chegou a ser o profissional com mais gols pelo Newell’s, até ser superado em 1984 pelo dono do posto, Víctor Ramos. Já não estava no NOB e sim no Talleres, onde estreara justamente em um 4-1 sobre o ex-clube. Escalamos o Cucurucho no “time dos sonhos” que montamos para a Lepra, no ano passado: clique aqui. Ele, que mesmo quando jogava nunca aparentou um corpo atlético, Faleceu em 27 de julho de 2013, vitimado por um ataque cardíaco.

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Em clássico contra o Rosario Central e na seleção

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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